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sexta-feira, 22 de agosto de 2008

O petróleo e o tempo

ENERGIA & FUTURO

Estaremos ricos, com a descoberta dos imensos campos de petróleo do "pré-sal"? Ficarão para trás os problemas da falta de recursos financeiros? Tudo dependerá de decisões políticas que serão tomadas nos próximos meses. Questão crucial: que ritmo de exploração atende aos interesses da sociedade?

André Ghirardi

(19/08/2008)

A sociedade brasileira apenas começa a despertar para um novo e imenso desafio que surgiu há poucos meses. Em novembro de 2007 a Petrobras anunciou a descoberta de novas jazidas de petróleo na costa do Brasil. Isto em si não seria incomum já que, nos últimos anos, anúncios desse tipo têm sido rotineiros. São muitas as descobertas ao largo da costa brasileira desde 2003, seja na já tradicional área da Bacia de Campos, ou em áreas menos conhecidas do grande público como o Parque das Baleias na costa do Espírito Santo. Mas o anúncio feito em 8 de novembro de 2007 nada teve de rotineiro. A notícia não foi transmitida na forma habitual para esse tipo de comunicação, mas sim em cerimônia conduzida pelos ministros da Casa Civil e Minas e Energia, acompanhados do presidente da Petrobras e toda a diretoria da companhia. Naquela quinta-feira de novembro, anunciou-se que um antigo sonho do Brasil se havia materializado na vida real: a Petrobras tinha descoberto, na ainda pouco explorada Bacia de Santos, acumulações tais como sonhadas por Monteiro Lobato, setenta anos atrás, pela abundância e boa qualidade do petróleo encontrado. O volume contido num único campo, o de Tupi, corresponde a cerca da metade de toda a reserva brasileira até então conhecida. E há indícios fortes de que esse grande campo seja apenas parte de uma imensa acumulação, comprimida sob uma placa de sal formada há milhões de anos, e que se estende pelo litoral brasileiro desde Santa Catarina até o Espírito Santo. Durante as décadas de 1950 e 1960 o Brasil lutou para encontrar petróleo em seu território. Acabou por encontrar no mar, a partir da década de 1970, quantidades cada vez maiores, embora o país seguisse muito dependente do petróleo importado. A partir de 2006, as reservas desenvolvidas passaram a produzir volume suficiente para garantir todo o suprimento doméstico. E desde 8 novembro de 2007, de forma surpreendente, o Brasil se depara com a possibilidade concreta de se transformar num dos grandes produtores mundiais de petróleo, do mesmo porte que os tradicionais países exportadores do Oriente Médio. Apenas começamos a despertar para esse imenso desafio. Ainda sem conhecer exatamente a extensão desse potencial gigantesco, começamos a ponderar sobre a melhor forma de agir diante dessa nova realidade.

Estaríamos então ricos? Ficarão para trás os problemas de falta de recursos financeiros? Talvez sim, talvez não. As grandes descobertas do pré-sal podem ser benéficas para o Brasil, e esperamos que assim seja. Uma imensa reserva de petróleo pode ser a fonte de recursos que dê vida aos investimentos estruturantes de que o país necessita. Mas é preciso cuidado porque, gerida de maneira equivocada, essa mesma reserva pode trazer mais problemas do que soluções. Grandes receitas geradas por exportação de recursos naturais podem causar a retração de outros setores da indústria manufatureira. É muito lembrado o caso da “doença” que teria contribuído para a retração de certos setores industriais na Holanda em conseqüência das grandes receitas geradas nas décadas de 1960 e 1970 com exportação de gás natural. Mas existem também casos de sucesso na gestão de grandes jazidas petroleiras. O mais citado é o da Noruega, que criou um fundo para aplicar os recursos da participação governamental nas receitas da indústria de petróleo. Com esse fundo o governo da Noruega destina recursos para investimentos, conforme uma política industrial que beneficia alguns setores selecionados. Com isso, evitaram-se alguns dos possíveis efeitos negativos que poderiam ser causados pelo crescimento acelerado do valor das exportações de petróleo. O que essas experiências mostram é que o petróleo sob a terra é apenas riqueza potencial. O desafio diante do Brasil é transformá-lo em riqueza real. Para isso muitas decisões terão que ser tomadas, seja sobre modelo de gestão, ou financiamento, e até sobre a repartição dos resultados, tanto entre empresas e Estado, quanto entre as unidades da Federação. Mas todas essas considerações, todas elas, estarão subordinadas a uma decisão estratégica inicial: o tempo de exploração do pré-sal; o ritmo no qual a sociedade brasileira pretende transformar em dinheiro suas recém-descobertas reservas de petróleo.

Estão em clara disputa os dois campos em que se divide o negócio petroleiro. Cada um propõe que o outro explore primeiro suas reservas — e se alternam num bilionário jogo de empurra, respaldados por argumentos técnicos e políticos

Longe de ser trivial, o problema do tempo de exploração das reservas minerais é muito debatido na literatura especializada. A referência clássica foi publicada em 1931, ainda na infância da indústria do petróleo. É o trabalho de Hotelling, que usa um instrumental analítico sofisticado, para demonstrar uma conclusão bastante previsível: a velocidade ideal de exploração das reservas depende do valor que a sociedade atribui ao futuro. Se o futuro for considerado valioso, o ritmo de exploração deverá ser mais lento. Se o futuro tiver relativamente pouco valor, a exploração deverá ser mais rápida. Embora clara, a resposta de Hotelling é enigmática, porque deixa outras perguntas, ainda mais difíceis, por responder. Qual valor, e de qual sociedade? As sociedades detentoras das reservas? As sociedades produtoras de combustível? Os maiores consumidores? O problema do ritmo de extração de reservas vai muito além da literatura técnica especializada. Ele é essencialmente político, porque trata de interesses coletivos conflitantes. Não há segredo nisso: esse conflito foi explicitado em vários dos recentes pronunciamentos durante o mais conceituado evento internacional da indústria do petróleo, o World Petroleum Congress, realizado em Madrid há apenas algumas semanas. Diante da crescente escassez de petróleo no mundo, e em meio a discussões sobre se atingimos ou não o ápice da produção possível de petróleo, viu-se claramente caracterizada naquele congresso a disputa entre os dois campos em que se divide hoje o negócio petroleiro, com a OCDE e as empresas internacionais de um lado, e do outro a OPEP com as empresas estatais. Cada grupo propõe que o outro desenvolva primeiro suas reservas, e se alternam num bilionário jogo de empurra, respaldados por argumentos técnicos e políticos. Os liderados pela OCDE têm reservas declinantes, e propõem que o grupo da OPEP seja o primeiro a aumentar de imediato sua produção e satisfazer à demanda irrefreável, enquanto se constroem novas instalações para explorar petróleo que tem cada vez menos qualidade, e é encontrado em lugares cada vez menos acessíveis. Em contrapartida, os liderados pela OPEP têm ampliado seu controle sobre as reservas conhecidas, já majoritariamente em mãos das empresas estatais. Para eles, a demanda mundial está atendida, e não há motivo para acelerar a produção. Pela voz da OPEP, esse grupo denuncia uma evidente incoerência da outra parte, ao lembrar que se encontram ociosas, sob intervenção militar da OCDE, as ricas jazidas terrestres iraquianas, e que os EUA mantêm fechadas à exploração as províncias petrolíferas marítimas da Flórida e do Alasca. Com isso os países árabes defendem e recomendam aos recém-chegados sua atitude tradicionalmente prudente, de poupar parte das reservas de petróleo para que forneçam riqueza e bem-estar também às gerações futuras. E no Brasil, o que faremos? Qual seria o ritmo de exploração do pré-sal que melhor atende a sociedade brasileira? Sobre isso ainda temos muito que refletir. Porém, a julgar pela postura zelosa dos principais agentes da indústria com relação a suas próprias reservas, duas coisas são certas: haverá pressão, mas não há pressa.

Ao ponderarmos nossa ação futura, o passado pode ser traiçoeiro, porque nos formamos sob outra realidade. A norma que o Brasil tem hoje para a indústria do petróleo pressupõe uma condição que já não existe. O país sempre foi importador de grande parte do petróleo necessário para abastecer o mercado doméstico. Na década de 1980 foi esse o calcanhar de Aquiles de nossa balança comercial, pois só as compras de petróleo representavam 40% do total de nossas importações. Os aumentos do preço do petróleo impunham sacrifício imediato no saldo da conta corrente brasileira. A norma existente é fruto dessa época em que era preciso encontrar reservas o quanto antes e, uma vez encontradas, desenvolvê-las rapidamente. Aos poucos evoluímos para uma situação que hoje é radicalmente distinta: já produzimos volume bastante para abastecer o mercado brasileiro. A perspectiva é que, apenas com as descobertas confirmadas em Tupi, passemos a ter grandes excedentes exportáveis. Com o que mais vier do pré-sal, podemos acelerar ainda mais a geração de receitas com exportações de petróleo e derivados, ou moderar a produção, pensando no futuro abastecimento do Brasil. Temos os recursos, e temos o dever de planejar seu uso da forma que assegure bem-estar para o maior número de brasileiros. Ainda que seja impossível atingir a perfeição, nesse caso, a pressa é decididamente inimiga. Enquanto ponderamos sobre como proceder, vale lembrar o milenar conselho de Sófocles: “destaca-se a prudência sobremodo como primeira condição para a felicidade”.

Mais:

André Ghirardi é colaborador do Le Monde Diplomatique Brasil. Leia suas contribuições anteriores:

Fonte: Le Monde Diplomatique Brasil

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Conversa de buteco

Chico Villela

A dupla Chenynho & ZeBusha fez um país rico de 300 milhões de habitantes levar direto no rabo. Um cronista político de respeito diria algo como:

“Ao que tudo indica, o atual governo dos Estados Unidos da América enfrenta situações de aguda adversidade enquanto tenta entreter duas guerras que vai perdendo, no Iraque e no Afeganistão, manter 737 bases com mais de 500 mil militares e civis a serviço em 130 países e um orçamento militar de mais de US$ 1 trilhão, maior que todos os outros somados de todo o mundo, e, além disso, perde-se em inúteis tentativas de segurar uma moeda em franca queda irreversível e uma economia que, ao ser transformada de produtiva e industrial em financeira e de especulação, fez ruir as bases do país. A soma das dívidas dos EUA chega hoje a mais de US$ 50 trilhões, mais de quatro vezes seu produto interno bruto. É o fim do mais novo império da história. Em resumo, um país-falido.

Maior conjunção de condições negativas, impossível: com o barril de petróleo a 150 dólares, o país, suburbanizado e baseado nos veículos familiares e nos combustíveis fósseis, que compra mais que produz, vai parando. Acresce a isso a preponderância do agribusiness e a extinção da sábia agricultura familiar, que mantinha as mesas fartas com produtos que contribuíam para a saúde. Emprego em queda, moeda em queda, economia em queda, crédito em queda, bancos e financeiras em bancarrota, a maior taxa de crianças gordas do mundo, derrotas em guerras, etc. Em resumo: um país sem futuro.

Mas que ainda guarda um (duvidoso) trunfo: a maior, mais especializada, mais letal, mais ilegal, mais assassina e mais genocida arma de guerra da história da humanidade. País nenhum tem hoje, contrariando as leis e códigos aceitos em todo o mundo, tantas armas convencionais, nucleares, bacteriológicas, químicas, psicológicas, eletromagnéticas, de manipulação do clima e dos elementos naturais, etc. Não bastasse o horror, estabeleceu centros de tortura fixos em seu território e países afiliados, e móveis, em navios pelo mundo afora, e consagrou a tortura e a repressão às idéias e ações com uma lei draconiana que nem sequer na antiga URSS ou na Alemanha de Hitler foi tão drástica, a Patriot Act.”

A dupla Chenynho & ZéBusha (o nome do presidente real vem primeiro) fodeu o país de forma final e a democracia. Em resumo: um país-bandido.

Mas eu não sou cronista político de respeito, apenas um cidadão de respeito, e nem sequer escrevo em jornais importantes, daqueles que trazem quatro páginas com anúncio de vans e suvs de sonho ou condomínios de luxo onde se abrigam os beneficiados pela globalização, iniciativa de sucessivos governos euanos e ocidentais, e que até agora só fez concentrar a riqueza e expandir a pobreza e a fome, empobrecer a classe média, aumentar os preços da comida, aviltar ainda mais os preços de matérias-primas, e transformar o ar, a água e a terra em fontes particulares de lucros, além de uma coorte de mazelas e infelicitações.

De vez em quando é salutar dispensar as linguagens acadêmicas, diplomáticas e protocolares, e escrever como há pouco estava conversando com amigos num boteco. Estados Unidos? Tá fodido. Agora mesmo estava dizendo:

Vejam vocês a burrice implícita nas guerras. Invadiram um país, o Iraque, que já havia passado por uma guerra de oito anos com o Irã, estimulada, financiada e armada pelos gringos e ingleses, com mais de 1 milhão de mortos; depois sofrido uma invasão do pai do ZéBusha; depois padecido com doze anos de bloqueio econômico e bombardeios seletivos de gringos e ingleses sobre instalações hidráulicas, industriais, pontes, escolas, hospitais, culturas agrícolas, etc.; perdido mais de 80% da capacidade de combate; perdido mais de 500 mil crianças por falta de remédios e doenças como diarréia. Foi este país que a valente dupla Chenynho & ZéBusha invadiu em 2003 como um ato glorioso. Três meses depois, o infeliz do ZéBusha desceu de helicóptero, com uniforminho militar, num porta-aviões ancorado no Golfo Pérsico, e com graça juvenil proclamou o fim da guerra do Iraque. Os malandros espertos riram: Idiota, a guerra vai começar agora. Começou e não parou mais.

As guerras do Iraque e do Afeganistão, que começou em 2001, são descrita pelos analistas como atoleiro, pesadelo, pântano e outros termos amenos. O país é um mosaico de tribos, clãs e etnias, com costumes ancestrais, absolutamente diferentes dos costumes ocidentais, que lutaram, por exemplo, contra Alexandre, o Grande, alguns séculos antes de Cristo. Também expulsaram conquistadores ingleses e, no fim dos anos 80, russos. Mal saíram os russos, entrou a tropa da dupla Chenynho & ZéBusha.

Cara, aquelas palavras que você falou, como é mesmo? Atoleiro, pântano, pesadelo... Isso! Mas isso não é a definição do Afeganistão para as tropas invasoras? É, cara! Olha só: a concepção do Pentágono da dupla Chenynho & ZéBusha é a mesma adotada no Vietnã, guerra perdida com 50 mil mortos e 500 mil soldadinhos loiros fugindo feito criança. Foi assim: vamos manter o fogo com bombas jogadas de aviões. Apoio da população, nem pensar, já que jogavam bombas o tempo todo sobre civis, mulheres, crianças, etc. Jogavam até bombas com agente laranja, que desfolhava as florestas. Sabe pra quê? É que, sem as folhas, o Vietcong inimigo perderia o abrigo-esconderijo. Olha que loucura! Mataram mais milhares e envenenaram por séculos terras e imensas áreas hoje vedadas ao cultivo. Uma cagada, cara!

Diria um analista categorizado:

“A questão central da guerra no Afeganistão é a incompreensão das forças aliadas da Otan e do Pentágono a respeito da história e dos costumes do país. A estratégia é a mesma do Vietnã, só que com menos soldados: em situações de perigo, chama-se apoio aéreo. Os aviões, de uma altura de milhares de metros, jogam bombas. As baixas são poucas, as bombas espalham destruição, mas os resultados são preocupantes: civis mortos em quantidade, destruição de residências e equipamentos sociais, e o governo do títere Karzai não consegue dominar nem a área da capital. Trata-se de uma estratégia equivocada, que só poderá levar à retirada em breve.

Além do mais, as divisões étnicas e clânicas entre os pashto estão em suspenso: há no momento uma aliança tácita contra o inimigo invasor. Se levarmos em conta que o Talibã havia zerado a produção de heroína pela repressão ao plantio de papoula, e que hoje o Afeganistão voltou a ser o maior produtor mundial de heroína, principal produto da economia do país, então é forçoso reconhecer que as forças aliadas ganharam episodicamente em 2001, mas desde então vêm perdendo a guerra contra o terrorismo e o tráfico.”

Ô, Zé, dá mais uma gelada! Cara, veja só isto: o Taliban é formado no meio da etnia pashto, a mais numerosa do país. Já foram bombardeados cinco cortejos nupciais pashto. No último, esta semana, morreram 47 mulheres e crianças, inclusive a noiva, que ia junto com amigos e parentes de sua aldeia até a aldeia do noivo. Os pilotos, chamados a socorrer tropas que cagam de medo a cada sombra que vêem, avistam lá do alto uma aglomeração de pessoas e soltam as bombas; todo dia tem civis mortos de bando. Cada bomba dessas garante algumas dezenas de novos combatentes. A força aérea da dupla de desastrados Chenynho & ZéBusha é o maior agente de recrutamento dos adversários. Não é de lascar? E olha que é a mais sofisticada máquina de guerra da história. Sofisticada, tudo bem, mas inteligente? Sei não...

Quer ver o tamanho da besteira dos gringos? O grande inimigo do Ocidente sempre foi o Irã, desde 1979, quando os aiatolás botaram o xá amigo dos gringos pra correr. A embaixada dos EUA foi invadida e tomada em Teheran e os reféns euanos ficaram mais de ano em poder dos rebelados. Uma crise interminável. Os EUA nunca mantiveram mais nem sequer escritórios comerciais no Irã. Rompimento total.

Mas, ô Chico, peraí, faz uma pausa nessa história , veja só: esta semana os gingos mandaram um desses funcionários importantes para a conferência com os iranianos e mais russos, alemães, chineses etc. sobre a produção de urânio (para o Irã, combustível de usinas nucleares; para os aliados ocidentais, de bombas), não é um gesto de boa vontade?

É nada, cara!É só uma deixa para dizer mais à frente, perto do fim do ano: Pessoal, não foi possível o diálogo, os caras não vão parar de produzir urânio para suas bombas, e, assim, só mesmo a opção militar está em cena agora.

Mas, voltando o filme: o Saddam era sunita, inimigo do Irã, e arrebentava com os xiitas, que governam o Irã. Sem o Saddam, subiu um governo sem-vergonha, de bonecos, mas que manda, bem ou mal. Quem são? O presidente é curdo, e foi apoiado pelo Irã na sua luta contra Saddam, que matava curdos sem dó com armas químicas inglesas e gringas. O primeiro-ministro é xiita, fundou um partidinho, e se refugiou no Irã durante a tirania de Saddam. O exército foi reorganizado com base na milícia Badr, liderada por um xiita, e que foi abrigada, treinada e armada no Irã.

Quer ver um fato engraçado? Um desses pica-grossas do Departamento de Estado esteve recentemente no Iraque. Desceu em aeroporto militar, só andou de helicóptero escoltado por muitos outros com armamento pesado, e só se reuniu na Zona Verde, gueto-fortaleza dos gringos em Baghdad. O Ahmadinejad, primeiro-ministro iraniano, esteve no Iraque. Desceu no aeroporto de Baghdad, foi de carro até a sede do governo e outros lugares, abraçou o presidente amigo, o primeiro-ministro amigo, o comandante do exército amigo. Porra, cara: que raio de estratégia é essa em que você afunda as suas tropas numa merda sem fim e vai fortalecendo o inimigo? Que cagada! Que puta sabedoria!

Ô, Zé! Manda mais uma gelada e traz uma de Salinas.

Fonte: Revista Eletrônica Novae

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Oriente Médio: Se esvai a influência dos EUA

Por Jim Lobe [Quinta-Feira, 7 de Agosto de 2008 às 18:20hs]

Há mais de cinco anos, o governo dos Estados Unidos invadiu o Iraque como primeiro passo para a “transformação” do Oriente Médio. Mas, foi em vão: contrariamente ao que previa, perdeu o domínio inquestionável que no passado exerceu sobre a região. As referências a “democratizar” os países da áreas desapareceram, praticamente, da retórica do governo do presidente George W. Bush. Washington teve de abandonar qualquer pressão que estivesse disposta a fazer sobre os regimes autoritários “amigáveis” para mantê-los diante da rejeição de seus povos, hoje muito mais hostis à potência norte-americana do que antes da invasão de 2003. Do mesmo modo, também fracassou em sua tentativa de forjar uma coalizão de fato com Israel e esses “autoritários moderados” contra Irã, Síria e seus aliados.

O governo Bush se recusou repetidamente a pagar o preço exigido por alguns países árabes para aderirem a essa estratégia: que Washington pressionasse Israel para que chegasse a um acordo de paz com os palestinos e retornasse suas fronteiras para os limites de antes da Guerra dos Seis Dias (1967). Além disso, a idéia de que os Estados do Golfo Pérsico (ou Arábico) apoiariam um confronto militar entre Washington e Teerã também demonstrou ser ilusória. Os únicos avanços obtidos no Iraque, onde a violência política de influência religiosa se reduziu acentuadamente nos últimos 18 meses, em boa parte é conseqüência das táticas contra-insurgentes mais eficazes utilizadas pelo general David Petraeus, comandante das forças de ocupação, após o envio de 30 mil solados adicionais.

Mas o objetivo estratégico buscado era a reconciliação nacional entre as principais comunidades religiosas e étnicas do Iraque. Isto não se conseguiu até agora e as prometidas eleições foram adiadas para o próximo ano. Inclusive, Petraeus continua alertando que os avanços em matéria de segurança são frágeis e podem ficar sem efeito, sem avanços políticos significativos. As preocupações dos Estados Unidos a respeito do Iraque, somadas às que desperta a situação no Afeganistão e Paquistão, afetam suas ambições de transformar o mundo árabe. Assim, os poderes regionais estabeleceram seus próprios acordos entre si, inclusive em formas que chegaram a intranqüilizar e até mesmo irrigar o governo Bush.

“A política dura e de choque adotada pelo governo demonstrou os limites do poder dos Estados Unidos”, afirmou o Fundo Carnegie para a Paz Internacional. A rejeição da diplomacia colocou Washington “em uma condição de impotência auto-infligida a respeito de muitos problemas”, acrescentou. O informe, elaborado por Marina Ottaway e Mohammed Herzallah, indica que “o vazio é preenchido, em parte, por adversários” de Washington, com Irã e Síria, o palestino Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) e a milícia islâmica libanesa Hezbolá, “e em parte por regimes árabes amigáveis, que buscam uma saída para situações que os Estados Unidos levaram a um ponto morto”. Isto é evidente na gradual distensão entre Irã e Arábia Saudita, tradicionalmente um aliado mais importante de Washington no Golfo.

Este processo incluiu duas visitas à Arábia Saudita do presidente iraniano, Mahmou Ahmadinejad, e sua participação, sem precedentes, em uma cúpula do Conselho de Cooperação do Golfo. Boa parte do crédito por esta aproximação é atribuída ao rei saudita Abdullah, que não escondeu sua intenção de reduzir a tensão entre xiitas e sunitas, os dois ramos principais da fé muçulmana, que passou a primeiro plano depois da guerra de 2006 entre Israel e o Hezbolá. Abdullah irritou Washington no começo de 2007, quando negociou um governo de unidade entre o Hamas e o secular e moderado partido Fatah, liderado pelo presidente da Autoridade Nacional Palestina, Abu Mazen. O monarca, nesse mesmo ano, também trabalhou junto com o Irã para aliviar as tensões sectárias no Líbano, apesar de seu apoio à política de Washington de isolar o presidente Sírio, Bashar Al-Assad.

De forma similar, o Qatar – onde há uma grande base aérea dos EUA – teve um papel preponderante para reduzir as tensões regionais, fundamentalmente negociando um acordo político no Líbano, que teve com resultado a formação de um governo liderado pelo primeiro-ministro, Fouad Siniora, que conta com apoio de Washington. Embora a secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, tenha aprovado o acordo durante visita a Beirute em junho, a maioria dos analistas o descrevem como um duro golpe à posição dos Estados Unidos na região. “Muitas nações essencialmente amigas adotam políticas que Washington desaprova, apresentando-as como fato consumado e deixando aos Estados Unidos a opção de criticar o fato por seus chamados aliados ou aceitá-lo”, destacou o estudo do Fundo Carnegie. “Os Estados Unidos têm pouca influência sobre as políticas dos países amigos”, alertou.

Inclusive, o aliado mais próximo de Washington, Israel, declarou uma parcial independência do governo Bush, utilizando terceiros para contatar adversários que os Estados Unidos tentam manter em situação de isolamento. Através do Egito negociou o que parece ser um crescente efetivo cessar-fogo com o Hamas, que poderia incluir no curto prazo uma troca de prisioneiros, como a que ocorreu no mês passado com o Hezbolá, apesar da clara desaprovação de Washington. Além disso, com a mediação da Turquia, Israel negocia com a Síria. Segundo a imprensa israelense, os dois países estão prestes a chegarem a um acordo definitivo de paz, que poderia acontecer na próxima rodada de contatos, em setembro.

Damasco insiste para que Washington apóie esse entendimento. Mas, devido à influência que exerce Elliot Abrams, máximo responsável pelas políticas para o Oriente Médio no Conselho de Segurança, e férreo defensor de uma política de linha dura em relação à Síria, a maioria dos analistas acredita que esse passo deverá esperar a posse do próximo presidente, no dia 20 de janeiro de 2009.


Fonte: Revista Fórum

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Igor de Fato

Para vereador em Santa Maria
Igor de Fato - n°65165